segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Alegria!!! Alegria que não te vejo

Só quando estamos longe descobrimos que não existe distância.
Não precisando de saber, ver, ler ou escutar resta alegremente esperar.
Quem sabe do que fala passa a maior parte do tempo calado e com esta certeza se fazem tantas coisas bonitas. Aqui e aì, sem que nada pareça mudar tudo já mudou.
As idéias cristalizam com ajuda das emoções alimentadas a serões passados juntos.
Quando os silêncios deixam de ser incómodos a vontade de agir surge espontânea.
Aquilo que era alvo de chacota passa a ser o que nos faz perder noites em alegre actividade.

Calmos e serenos mas com poderosos rios correndo dentro de nós.
Pequenos afluentes dum caudal maior que a todos une afinal.
É esta água comum que nos faz crescer e dar frutos mesmo quando o ambiente parece não ajudar.
É por saber que esta nunca nos vai faltar que a minha alegria é cega

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ausência de valor

Digo e desdigo o que digo sem ninguém mo dizer.
Nesta desdita não perco Norte nem Sul por aì o valor nada valer.
Reparo que as minhas palavras apenas existem no momento e para o momento.
Tudo o resto é apenas isso um resto, adição ou algo menos...mas nunca aquilo que já havia sido.

Neste brilhante jogo nada é o que parece e usar do juízo é pura ilusão.
Prefiro deixar escorrer bacoradas por mim a baixo na esperança que alguém me contradiga.
Os confrontos são menos que os desejados mas sempre saudados com sangue, suor e lágrimas.
Vivendo cada baforada de vida como se fosse a primeira ou a última esqueço que podia haver um sentido algures oculto debaixo dos meus sentidos.

Sigo livre do peso do meu passado pois só assim consigo ser autêntico a cada instante.
Oiço as vozes que me recordam aquilo que dizia ontem mas é apenas eco sem boca nem orelha.
Quando lhes digo que nada do que disse, digo ou direi terá qualquer valor arremelgam a vista confundidos.
Prefiro que o valor esteja apenas naquilo que É e não naquilo que foi, será ou poderia ter sido.

O presente também não tem qualquer valor pois se te deitaste a pensar nele assim ele se passou.
A matemática da vida esconde-se por debaixo de fórmulas insondáveis para nós de nada nos valendo meter a contas.

Por quanto tempo mais vou eu continuar a dar valor ao que vivo?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Homenagem

Assim dizia Boris Vian fora de qualquer Tempo ou Espaço.
As suas palavras são sempre mais válidas que nunca.

Balada dos Cãotribuintes


Somos nós os desventurados
Os pobres contribuintes
Obrigados a sofrer até ao fim dos tempos
A sorte a que impertubáveis
Nos condenam todos os nossos governos

Se meteres cem francos de gasolina
Oitenta vão para o Estado
Olha cheio de concupiscência
Os Cadillac...
Olha pra outro lado
No teu dois cavalos de brincar
Saltita ao longo dos caminhos
É uma sorte poderes circular
Amanhã vão-to proibir
Taxa sobre o álcool e a cerveja
Sobre os definitivos e os provisórios
Sobre o triste celibatário
Castigado por ser só um
Controlam-te todos os passos
Ah compraste um belo naco
Tudo corre às mil maravilhas
Paga guloso paga prò saco


Numa bandeja o Estado dá-te um prato...
Apanhas um desgosto...
Está vazio!!!
E tu admiras-te, mas é o prato do imposto
Tu passeias pela vida
De peito feito cheio impante
Cuidado com o imposto sobre a energia
É para ontem... ou mesmo antes
Um belo dia sobre o oxigénio
Ligar-te-ão o contador
Tarifa simples o ar do Sena
Tarifa dupla o ar da serra
Eis porém que tu te fartas
Preferes andar aos caídos
Ou tornar-te engolidor de facas...
Taxa de engolidor acrescentada


Um remédio o casamento
Dizes de súbito e corres
À procura de uma rapariga séria
Que saiba de amor e de comes
Apressas-te e calculas
Que ao fim de doze filhos o abono
Do teu rendimento minúsculo
Compensará a escassez
Mas um inspector das Finanças
Põe-se a badalar a ideia
E pare... sem dor por minha fé
Um texto cheio de veia
Então a Câmara classifica-te
Como garanhão de cobrimento
Medem-te e tens a mais
Pagas taxa sobre o comprimento


Se pagasses para alguma coisa
Sempre tinhas uma justificação
Mas infeliz daquele que ousa perguntar
... pr'onde vai o cifrão ?!?
Temos estradas miseráveis
Não há escolas mas padres
Acabou o bom vinho há carrascão
Mas fornecem-nos o puré
O governo da França
Republicano — ou que assim diz que é —
Só um prato oferece com abastança
O frango... pilim para o arroz
E para evitar a falência
Dos pobres vendedores de canhões
Faz-se uma guerra do pé para a mão
À guerra não se diz que não...
Mas nós os pobres cães os pobres contribuintes
Virá um dia em que de pau em punho
Nos consolaremos a limpar o redil
Onde os nossos seiscentos porcos estão maduros para o enchido


Boris Vian, in "Canções e Poemas" Tradução de Irene Freire Nunes / Fernando Cabral Martins
com algumas alterações feitas pelo autor deste blog

quarta-feira, 17 de junho de 2009

contra a dita

a verdade frágil da razão
a razão roi o razoavél
no razoavél cresce o limite
nele a impossiblidade

acordai pois então!
que a vida ( que não adivinho )
só sei que me faz viver
não escolhi, não escolherei
e nesta hora, então??
qual de duas verdades
a melhor?!
então que entra nova gente
a explicação
uma forma de por correntes
à multidão, sem ninguem empurrar
a verdade morre a cada segundo
renasce logo após, em cada pestanejar
um pouco ou tão igual a nós
a verdade é combustivel e volátil
onde vamos com ela'
quem queremos Ser?
uma presença cheia de dogmas
a vaidade de tudo saber
um mar perfeito de erros
ou uma irregularidade crescente
uma imperfeição certa, uma coisa
que não Há como escrever
que não tenho lembrança
então grito, choro, sei que vou morrer e vivo ainda mais
nesta hora só me tento
existir.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Não quero ir só

No meio do meu pedaço de Céu vejo um mar revolto de corpos e actos humanos.
Abanando a cabeça em silêncio dou por mim a pensar coisas patéticas de tão humanas e mesquinhas.
De que me servem todos os avisos quando vejo quem amo cair nos mesmos velhos buracos?
De que me serve a minha razão perante a dor alheia tantas vezes cega e irracional?
Perdendo-me no planar suave da pirata gaivota recupero o momento.
Mas de que me serve ele se o vivo sózinho?
Como me alegro de tudo deixar e de nada sentir falta!... Mas como não magoar o próximo com este meu desprendimento?
No meio dos sonhos que são a minha vida, dou por mim sentado partilhando visões com tantos Jesuses e Budas que as palavras perdem os contornos e todos os conceitos se unificam num pulsar que é Só aquilo que nos sustenta.
Sabendo eu que nada do que interessa se explica por palavras, resta-me apenas quedar-me um pouco mais entre aqueles que amo.
Com a meta á vista há que olhar para trás e cuidar de quem lá vem.

domingo, 26 de abril de 2009

adultos perdidos

Vejo-me a verificar correspondências faciais, no decorrer das minhas fúteis divagações sobre uma razão em que todos acreditam ser, o caminho da boa atitude e posição colectiva, disto ser presa fácil ao consenso próprio da consciência, que opta escolher o que na rede fica, a falta de sentido aproveita-se da cadencia repetitiva do erro e germina uma verdade, que mesmo frágil é a única.
Fracos e perdidos, cheios de um vazio pleno de sabedoria, martelam flores, semeiam a vida de pregos.
Incautos ao balanço da aprendizagem, tornam se senhores da melhor das desgraças, e que balanço tremendo, que discrepância pendular entre o antes e o depois.
Que escuro é, todo o ser que se abandona em prol das palavras de um outro, sem nunca sentir que se trata do mesmo, mergulhos transparentes na perdida tentativa de iludir, são todos os mesmos que querem ser, deixando a liberdade ir num barco de um remo só.
Eu fraco de tentar a concordância, que é a mesma discórdia em palavras mais brandas, de incuti-la como um organismo vivo a ser considerado parte.
Silencio tudo é, a onda bruta mas clarividente do acordar
As palavras fartas de nós, reluzem como diamantes, desdobrando em brilhos o engano
Acabo de despir a minha pele, ando nu neste corpo.

pequenos esgares

Os dias caem sobre todos
A morte inevitável
Os dias surdos, envoltos no barulho do meu pensar
Custa-me a creditar, que isto de aquilo tanto difere
O núcleo perde consistência perante um fenómeno só possível em abstinência do Ego,
Da miserável doença…do poder
Que mais não mostra ser, do que a fraqueza que é subjugar e controlar os demais
(os outros) (os muitos roucos)
E logo expludo, ando perdido em cheio dissolver
Já não sou e não me importo de já não o ser
Ando-me, transmigro e aqui vou
Lançado na elipse do universo
Alfazema

quarta-feira, 11 de março de 2009

Onírico Real

Encaro os sonhos nos olhos e sorrio confiante.
Estas maravilhosas manifestações dum Real ainda não concretizado são afinal aquilo que nos faz avançar no desconhecido.
Alguns parecem ter condenado os sonhadores a um exílio forçado.
O desdém com que somos enfrentados deixa pouco lugar a esperança mas felizmente o Sonho não necessita de companhia e sabe que quem desdenha quer comprar.
Enquanto, fora do tempo, observo a pequena realidade que me rodeia deparo com os sonhos a tomarem forma e consistência a cada esquina.
Esta, ainda solitária, constatação enche-me de paz e confiança.
Sinto que nunca vivemos tempos tão abençoados e fantásticos e isto leva-me a flutuar de novidade em novidade. De sonho em sonho vou vivendo um gozo quase ansioso e indizível , bem longe de qualquer pesadelo exterior a mim.
Sem grande esforço vivo a vida que sempre quis e construo os meus sonhos a par e passo, usando respeitosamente aquilo que tenho e aquilo que me é dado a utilizar.
Só ou acompanhado, rindo ou chorando, pouco ou nada interessa.
A certeza de que nada será como d´antes chega para que eu enfrente o que vier de peito aberto, cajado na mão e sorriso nos lábios.
Por vezes sinto que tudo isto não passa dum belo e terrível Sonho.
Alguns acordam para ele, outros vivem-no até ao fim.

terça-feira, 10 de março de 2009

Amor ao Ódio

Amor ao Ódio
Gentil, verdadeiro na mentira
Tão gémeo, tão parecido, ou pouco mais
Emoções germinadas, a pequenos estímulos afunilados
Todos eles à capacidade ou falta dela para criar ou ignorar conceitos
Palavras onde não são necessárias para o entender,
O entender é atravessar toda a carapaça, perfurar do núcleo à superfície.
Do que poderá realmente ser
O real, também visto como qualquer coisa relacionada com o verdadeiro incutido em pequenas doses, a fim de não irritar o paciente.
O real pode então, não ser tudo o que afinal conhecemos, mas ser mais sincero, atribuir-lhe um valor qualquer, do que um valor certo.
Há então um amor ao ódio, há então um perigo oco o suficiente para tornar o momento em coisa maior
O que dá comida ao que sentimos?!
Caprichos pessoais que não são
Truques, todos para pasmar
Libertar da mesma fonte, a contradição
Camadas sociais, cadeia de comandos, comparação sem conhecer.
Poder, controlo e poder das emoções, massacres de qualquer emoção que se consiga auto-anular.
Emoções que dissipam outras, que levam o ser a pensar, que isto é que deve ser o tal de real, nunca desconfiando que pode haver algo mais no interior
Que se passa…que o ultrapassa, no precioso instante de existir.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

comboio de cabrões

Vejo passar este comboio de cabrões
doçes, regalias, prémios!!! prémios senhor!?
eu que não acredito em entidades ou porra nenhuma superior
fazendo de mim um crente sobre tudo, mesmo o que desacredito
vai cheio este comboio, de um carnaval que não finda
há aqui cabrões de todo o tipo
até dos bons, dos de 1ª classe, que sendo e parecendo uns santinhos, com aquele ar muito ajuizado, são piores na entrega.
até o intestino mesmo torcido cá dentro da pança, é capaz de ser mais recto, que as suas atitudes de luvas brancas
mas eu não estou chateado com isto!!!
isto já só me enerva até à fervura, e nada se estraga, aproveito e dessa fervura, sirvo-me um châ de ervinhas, que afinal são elas os nossos criadores
o que vale, o que vale senhor em quem não acredito ou desacredito, é que vi, afinal onde estavas tu e a tua salvação, dentro deste comboio de cabrões
tu eras a puta da locomotiva e apenas apressavas o teu tédio de os aturar
perdi o bilhete de propósito, que esses não se dão a ninguem, a menos que to peçam tão delicadamente como fosse para comer, se isso é pra essa fome, então enche o bandulho, sê a fartura de todo e qualquer reclame publicitário.
logo que findo o chazinho, zarpo nesta figura que me calhou, a pé, a voar, eu nunca estou a fazer o que pareco fazer.
nenhum de nós , afinal o está
bem dita Negativa, o Hara-Kiri inverso
não ponhas, não te carregues, neste ou noutro comboio imaginário, mas tão realmente repleto de cabrões
agora senhor, a questão já não é essa...
e nós...já chegamos?!
alguma vez foi preciso sair do ser para descobrir o que é já descoberto.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Momento congelado

3 de Fevereiro de 2009, Taveiro, Benedita, Alcobaça, Santarém, Portugal, Península Ibérica, Europa , Terra
A chuva continua alegremente a sua música e as aves acompanham estridentes.
A vida encara as águas celestes das maneiras mais diversas e maravilhosas.
O que para uns é benção a outros parece maldição. As bocas avidas, sedentas e curiosas contrastam com os lombos arrepiados aquecendo-se á beira da sábia lareira.
O fluxo incompreensivel da vida é de uma complexidade tão simples que ainda não existe palavra que a possa descrever. Os significados são apenas as máscaras que se dão aos factos. A verdade é algo que só existe no mundo humano, uma busca de razões tentando validar o passado apenas por receio do presente.
As obras, palavras e actos humanos são tão dignos de reparo como a mijadela dum gato ou a queda duma folha. Perdemo-nos num caminho de racionalizações egocêntricas e diminutivas do Todo. Sempre em busca dum bocadinho de Luz e para isso correndo para uma cave escura, negando o Sol que Sempre brilhou por detrás das nossas nuvens.
O ritmo aumenta e o meu sorriso abre-se saindo de mim posso receber o que não me pertencia de inicio, partilhando tudo com todos. Nunca tendo nada a perder, somente uma vida que não fiz nada para merecer, sigo de peito aberto para a próxima surpresa.
Bom , Mau, Assim-Assado, pouco me interessa , se me me conheço apenas estou nisto por amor a isto. Os diferentes sabores, ardores, temores e outros amores são apenas aquilo que nos distancia uns dos outros. Entendedo que tudo isso são vaidades começaremos então a ver o quão bela esta estória é. As possibilidades serão infinitas e o Futuro passará a ser o presente vivido com um sorriso nos lábios e uma serena Paz cósmica.
E com isto a chuva parou, não porque eu escrevi, mas sim porque ja estava escrito.