terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Muros

Sózinhos no início, o úterino mundo parecia-nos a perfeição. O tempo chega.
Molhados, contrariados e confusos somos expulsos, pela primeira vez, de algo que sentíamos ser nosso.
Os olhos acostumam-se ao novo mundo e começamos logo em busca de algo a que nos agarrar.
A falta de mãos para o excesso de coisas faz com que nos multipliquemos inconscientemente.
Corremos dias a fio e adiamos o sono até mais não.
Na ânsia de chegar a todo o lado nunca chegámos verdadeiramente a sair do mesmo sitío.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Meia mória

Foi preciso enrolar me nas ondas
esgravatar na porta ao lado
pedir a quem não tinha
exigir o que nunca tive
se me visse ajudava-me
escrevo recados nas mãos dos outros

lembra-te de mim!

mas a minha memoria é hoje um chapeu de chuva
que estou sempre a perder...

baloiço

que sou, que seja
assim ou ali
que vá
que eu sou..qualquer brisa
outra qualquer janela
bordada a bolor
atentados á tentativa
beijos fortes
no vidro frágil do suor
afundo-me
como pés na areia molhada
e o valor ou sinal que sou
é de estar de passagem

incito-me no meio..desfocado
incluido no arrastão da mente
salto a tempo rebolando
com tanta gente
alucino melifluamente
derreto-me em paz ou turbilhão
de saber?! só sinto
incito-me...Anda cabrão!!

mão ou pata?

já não sei ou sei bem demais
onde um começa e o outro termina
se finjo com verdade
ou com a mentira
cheiro a merda de perto
como quem desconfia
de ser igual ao que vê
as paredes dobram
as caras, são afinal só fantasia
meias rotas que calço
cigarro longo de um dia
a solidão como festim
abutres delicados
o eco cego de um susto
que não me fez acordar
e assim ando enganado
ao escuro
dizendo que esta luz ténue
que seguro
é o melhor..
o melhor que há!!
fútil menino de cabelos brancos
que na soma das partes
não sabe quais somar
o que finje ser
do que é a finjir
perco pelo e saltam unhas
mijo onde calha
e ponho-me a andar
Que um cão...não tem paciencia
pra estas merdas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Será fingir?

Seremos nós mais que a soma das nossas partes?
No oco aparece o eco que mais não é que repetição.

Pontapeias as ilusões criadas na dopada ociosidade.
Arranjas quem te belisque de quando em quando
Vais mirando um espelho que teima em estar vazio.
Colocas a tua melhor peruca e sais em busca de aventura...A ventura de sair da peruca...

Os cães lutam á minha porta
As solas manchadas de sangue deixam pequenas migalhas que tubarões cheiram á distância.
Corro pesaroso por ter que á Morte fugir.

O veludo torna tudo tão suave que me deixo dormir enquanto me mostras os males do mundo pelos teus olhos... Um movimento sexy consegue acordar alguns.
Para outros mais fácil era dormir....Dormir para sempre...
Fingindo acordar a cada manhã,mas dormindo, dormindo sempre.

Enquanto se viaja de corpo em corpo sentem-se os diferentes aromas do medo e tudo se revela na mais absoluta escuridão.
A língua passa a noite entalada num livro e não mais se cala.

Será que fingimos ou seremos realmente aqui que fingimos ser?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

oco sem eco

Arrastam-se vestindo casualidade
eu participo àvidamente, finjindo-me
ser quem nunca fui, um futurista pró passado
palavras ocas sem pensa-mento
particulas dos momentos imovéis
que se guardam em abismos
inrecuperáveis
tamanha queda finjiria ser uma ascenção
ninguem caso contrário, cairia
no lamacento...feito obrigação
trabalho do dia a dia
ordenados para pagar vidas
as vidas singulares sem retorno
morria a memória de nós
se já soubesse...o que não sabia
como eu...que vou dizendo á vida
que é só esta..a outra, será melhor

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Sem PeRnas

Ainda que o gelo viesse e todo o movimento cessasse.
Ainda que na noite fria o fogo se apague.
Ainda que nada mais de bom se passasse.
Ainda que mais ninguém me afague.

Corremos de mãos dadas com a Vida.
Caímos e rimo-nos saudávelmente das nossas quedas.
O sangue perdido foi uma fresca brisa.
As dores sendo a cola que nos faz Ser.

Ainda que nos caiam os dentes o sorrisso ficará.
Ainda que nada seja o que parece continuamos a tentar.
Ainda que distantes nunca sózinhos.
Ainda que cem peRnas faremos O Caminho.

4 olhos

saudo-te...
desta mente
corro contigo
nos animais que somos
de repente...é de repente
que implode o dormente
e já fomos...isto da vida é uma sinapse dentro da bica
importante são as murtalhas
Ninguem ( parece ) passa sem elas
fumo-te e porra!! Sabe bem!!
esvoaças ... pela janela
O que fica é o sabor do momento
De tudo o que passou sem passar
Dava um murro no espelhos do mundo senão me
aleijasse
E o inconveniente de fazer a barba no escuro
Por onde passo, já estive
onde estou..nunca
visões simplórias detrás da nuca
do que desconheço
que está a vir
corremos em patas de gente
olhamos com os olhinhos
lá adiante
e transfigura-se o presente

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Medidas de mérito

Qual a medida da covardia humana?
Todos nós, de Hércules ao mais pequeno bebé chorão, temos a nossa medida de coragem e covardia.
Será possível e de interesse medi-la?
A minha curiosidade científica diz-me que sim.

Quem será mais covarde?
O que vive sem pensar? Ou o que pensa sem viver?
Gritam-se palavras de tolerância, respeito e aceitação
mas os actos traem as palavras revelando as prisões que nos amarram.
Lendo livros aceito lindas utopias
que desculpando os meus actos se contradizem a si próprias.

Saber Demais

Algo está a saber demais
A saber demais a sal, talvez lágrimas
A saber demasiado a fel, talvez azia
A saber somente a mel, talvez fantasia.

Perdemos o tempo no que sabemos ou saboreamos aquilo aos que os outros sabem e na essência nada muda...Passam saberes e sabores mas a boca é a mesma.

Olhamos para baixo e vemos a resposta ansiada aos nossos pés...
Trocamos olhares de incrédulo terror e corremos como se de cruz se tratasse...Enquanto um disfarça o outro assobia e tão cedo não voltaremos a olhar para os sapatos

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

isótropo

Desconheço-me, perpetuando a persistência de me lançar, fundo ou mais alto.

O caminho apenas se dissipa e se molda

Os limites nunca foram eixos, a cobardia é também coragem, a decisão e as inseguranças …não os reconheço, são tantos que perco a visão, recordando apenas o bafo quente do medo e da canção da alma…cego onde não é preciso ver, ignorante o bastante para não saber…onde começa a ignorância.

acorda ou ...

Acordo em sobressalto
vivo, outra vez
um vivo ansioso
com ansias de provar..o fresco renovar da atitude
a seguir a todas as intoxicações sentimentais
um estomago novo e vazio
aparece...vindo quem diria,
do sentir a dor
como o repetido nascer
mas desta vez
de olhos abertos
com os olhos do ser.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Começar a largar

Só me apetece escrever.Escrever, escrever para ninguém ler.
Penso e repenso até que suspenso o fôlego
empenho a pena e que Pena esta que me leva a escrever.
Revejo a minha eterna dualidade e procuro alguém que a entenda.
Não busco aprovação nem julgamento somente preciso de ver quem sou.
E ao ler o trabalho da penosa pena acabo sempre por me ver mais claro.

Se calhar á medida que vamos largando as palavras vamos ficando mais leves e etéreos...Será a perfeição feita de silêncios?