quarta-feira, 19 de março de 2008

de joelhos..aos pés de ninguem

a simplicidade pode aparecer como uma ameaça
o sorriso como insulto bruto
a conversação que é uma festa, um disturbio
afasto-me zangado mas só comigo e com
todos os punheteiros que chupam
na verga da sociedade
admiro-os, naquele equilibrio de enlouquecer
é como descer mas a subir
como o principio para um principio de fim
colem juntas todas as mentiras
amordacem a puta da terra
morram juntos como as peças
que todos somos
o episódio frustrante de duas pontas se atirarem em busca da outra
e no encontro...desdobrarem-se
aumento a dose aos transeuntes e por fim
nas paredes nascem portas..onde só entra quem não é
roupas espalhadas na rua...indicam-me a cadencia a que os ratos com pés se iludem
aseguir, fica-me um gosto de órgia, de existencias banais em budas
amalgama nas linhas, nas curvas
de joelhos...aos pés de ninguem

nesta estranha colmeia, a rainha come os seus
os que sobejam, misturam-se, evidenciam-se e mais pequenos se tornam
nas palavras cinzentas de um prometido arco-sem-iris
todos reclamam o seu quinhão
a surpresa é medonha, e desde que tomam noção da sua morte
passam a vida a inventar estorias dos céus...um chão de Alguem
e aos poucos como o ódio..perde forças
e deste que me assusta por o viver
incomoda já muito menos que o real
ser...um simples sonhar
os que sem demoras me mandam bugiar
sem rejeitar no que não concordam
ficamos a falar já de outra coisa
que teimamos em espreitar

domingo, 16 de março de 2008

Obscenas Idades

Ela vem lenta sobre mim. O seu corpo esguio e morno lambe-me sem lingua. A sua cona abre-se e parece querer devorar-me.
As espaços sinto puder entrar para sempre nela. E lá viver.
Quente e húmido. Alimentado por monstros de um olho que cospem meita.

Trabalho-a com a minha lingua romba pelo uso e vejo o revirar natural dos olhos. A luxuria mata o Ego e ela fica mais nua e exposta que nunca.
Lambo o interior das suas coxas e ela grita pelos meus dentes.
Arranho-a com a mal-desfeita barba e em breve o olho cego tem novo uso.

Puxa-me o cabelo peço eu com a boca cheia de sexo.
As rédeas são usadas e sinto-me uma besta na manjedoura.
O feno são pintelhos e a água sumo de cona.
O frenesim aumenta e em breve o sangue surge.

O teu corpo cada vez mais faminto clama por mais que eu.
Faço da tripas caralhão e vou em frente. Firme e hirto mas sem tesão.
E bato.Bato-me.Bato-te.Fico na duvida se prefiro o sémen em teu cabelo ou o sangue nos teus joelhos.

Tu olhas-me agradecida. Eu triste pelo dever cumprido adormeço.
Quão básicas e diferentes são as nossas Obscenas Idades

Apetece-me

Apetece-me dançar sem os pés mexer.
Apetece-me dormir sem acordar.
Apetece-me fugir da vitória.

Os apetites sempre a crescer.

Apetece-me chorar para te não ver.
Apetece-me comer sem mastigar.
Apetece-me cobrir-te de glória.

Os apetites sempre a crescer.

Apetece-me morrer para te ver sofrer.
Apetece-me matar para vingar.
Apetece-me rescrever a História.

Os apetites sempre a crescer.

Apetece-me entrar no esgoto.
Apetece-me quedar cego e boto.
Apetece-me cortar a mão e lamber o coto.

Os apetites sempre a crescer.

Cansado por tantos apetites arroto em paz a minha loucura

terça-feira, 11 de março de 2008

Vi a luz

Acordei tarde e a a boas horas.
Na minha almofada o cheiro a lobisomen lembrou-me que dormia em caverna alheia.
O hálito forte da vida canina e a sua aspereza de lingua arrancam-me inesperadamente do esquecimento.
Urro de prazer por ter sobrevivido a mais um sono reparador. Confiro a consistência do , dorido, esqueleto e vou em busca de mata-bichos.
Morto o da fome, da sede e da higiene, o da insatisfação havia crescido e afiava as garras pousado na minha cabeça.
Acariciei-lhe o pêlo na tentativa de lhe medir o pulso e calcular o desejo. Acabei arranhado e com vontade de ser cobaia farmacêutica.
Com raiva consulto a agenda. A caça começara. Preciso de um mata-pulsões. Sei muitas receitas e vou em busca da mais barata e saudável.
Um corpo com desejos simétricos ao meu com quem possa executar uma operacão com resultado ZERO e prazer indefenido para ambas as parcelas.
O contacto telefónico é feito e antigos desempenhos facilitam uma repetição. A aproximação dá-se, a magia acontece. A paz oca vem e adormeço sem sequer fumar um cigarro.
Quando acordo o corpo é estranho e os desejos completamente assimétricos. A insatisfação rói enfadada a pouca beleza do momento.
Procuro mentalmente uma saida airosa e antes que nova operação fosse indiciada abondono o local montado na crescente insatisfação.
Mais leve porém peço mais peso e alimento-me como se tivesse trabalhado para tal. A cobra enrola-se demais e o mais básico dos básicos acaba por ser o sublime.
Enrolo o meu tempo e fumo-o com tempo. As passas longas amaciam as arestas e tudo escorre sem dor. Um olhar irmão confirma o nosso desejo e sem encomenda o saco chega com mais que o necessário.
Confirma-mos sem palavras o acertivo da escolha e escolhemos o resto.
Depois de definidas as prioridades o acessório encaixa sem dificuldade.
Nas calminhas preparo os meus prazeres sabendo que quem me interessa faz o mesmo. Preparo as minha armas e saio para a rua. Bem acompanhado por dentro e por fora. O meu sorriso e agilidade na fala não comprometem o bom nome das famílias e posso atentar contra todos.
Shiva vem em meu auxilio e em breve nada é o que parece. A festa já havia começado mas os mortos dançavam no meio de nós. Beijo alguém na boca e a náusea tomba-me. Tento escutar as razões alheias mas é merda merda e mais merda. O meu corpo entra no frenesim habitual e a musica é a única coisa que existe agora. O meu corpo sabe tudo o que precisa e não quer amigos. Antigos ritmos e rituais nascem e morrem em mim. Mãos afagam-me e abrem-me os olhos. São bichos da insatisfação á caça. Cuspo no chão e fujo sem pressas. Exibindo o meu corpo se algo pudesse acontecer.
Dançando as palavras que havia largado ganham consistência e as almas perdidas voltam a aproximar-se. Agora com desejo novos e redobrados.
Ponho-me em leilão.Mas sem reserva fixa ninguém arrisca o primeiro lance. As mãos testam o produto e ouvidos querem novas palavras.
Falo com elas e espremo-as com fervor. Chupo-lhe os sucos e cuspo as casquinhas para a pista de dança, onde outros se apressam a dar-lhe uso.Bagaceiros digo eu.
Quero-me sozinho. Só para mim. Preciso de algo bom e vou em busca dele.
Amigos,o rio,o Sol, tudo lá estava. Encho-me de mim e grito a minha indignação do dia. Espalho a minha mensagem e eles ouvem.
Os meus desejos quando não concretizados servem de combustivel para aquilo que realmente interessa. Sem tempo a perder construo mais castelos no ar e sem pressa planeio a sua não concretização na expectativa daquilo que a frustração me vai trazer.
Acho que só poderei ver a luz se estiver realmente ás escuras.

segunda-feira, 10 de março de 2008

a uma hiena

mordo as mãos...as minhas
mordo-as como fossem comida
preferia morrer saudando a vida
que viver por vezes os dias
mal nenhum encontro
algum bem
dissolve-se a luz
ganham-se novas verdades
caldeirão existencial
transformar-me
esta a demorar mais que queria
fica mais longe fazer futuro no passado
tudo atras de mim é pele morta
surgem quadrantes sinuosos
horrores disfarçados
alguns saltam, atravessando-as..inocuamente julgados
acredito sem piamente me submeter
a nenhuma ideia, pensar, alguma conjucção sonora de significados em parelha
venho á tona dos mundos
e ainda sem tirar a cara de parvo de admirado
sorvo o ar das vozes
e levo para o fundo, tempo
que demoro a voltar
e ocupo este corpo
esguio, esqueletico moderno
mas acordo no sonho
e é isso que sou
uma noite tranquila