segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Viagem sem regresso

Sentado á espera de algo que não me apetece criar eu mesmo, olho para trás vendo o brilho do Sol ampliado por uma lágrima.

Reparo nostálgico em toda a merda que fiz ou deixei por fazer e a acutilância do meu Ego não me deixa esquecer nenhum possível cenário, levando assim uma imaginação fértil a pantânos infectos e áridos.

Começo a sentir que talvez as percas tenham que ser mais que os ganhos.

E que só assim o tal despojamento necessário pode acontecer. Como poderei agarrar algo se tenho as mão cheias de coisas!?
As coisas, as coisas, sempre as putas das coisas. Continuo a ser o mesmo menino deslumbrado por brinquedos dos quais me vou fartar logo que sejam meus.
Temendo ficar de mãos a abanar retenho um pássaro que já fede na prisão das minhas palmas.

Somente no dia em que largar as asas é que vou conseguir voar.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Prosas fumadas

SOnantes pedradas abrem portas em muros feitos de fumo.

Um alvo lobo tenta comer os males do mundo enquanto as trevas lhe são o pão. Os negros meninos dançam melhor que nunca as musicas do Demo e alguém ri satisfeito no seu trono branco.


Desço da minha grande cabeça e enfrento a realidade alheia. Escorregando molemente insinuo-me aos passantes e em breve sou pele fina ao pescoço de quem disso gosta. Afio a lingua nos ouvidos ali á mão e em breve sinto estremecimentos de prazer que me fazem querer calar.


Os ombros de um odor sobrenatural atiçam-me o apetite e em breve o sangue corre. Os meus dentes psicadélicos parecem escorregar na ternura das carnes e receando enjoar termino o manjar.

Olhos agradecidos e espantados temem e desejam o próximo passo dos loucos.


A chuva vem plácida e as aves de agoiro ou não, recolhem ás beiradas. O fumo do meu cigarro cruza-se no caminho do Tempo que se senta a fumar.

As gotas massajam voluntariamente as sedentas almas e tudo nasce e morre no mesmo sítio.

Enchendo as unhas de solo cavo a minha própria sepultura nela durmo o mais abençoado dos sonos. O sono consciente.

sábado, 6 de setembro de 2008

Liquidos constantes

Duas gotas de chuva descendem do céu negro e tenebroso.

Sem nunca se conhecerem partilham a mesma origem.

Sem nada desejarem acabam por tudo alcançar.

Dois corpos voláteis em busca das formas do maravilhoso.



A água que tudo aceita cobre todos igualmente.

Puro ou imundo leva o mesmo tratamento amoroso.

Como eternas crianças repetindo o jogo eternamente.

Os corpos que nos recebem aguardavam o toque sequiosos.


As lágrimas lavam os olhos e tudo se clarifica

A nossa morte vai ser chuvosa e magnífica

Sem necessitar de qualquer companhia sei que ninguém está sozinho

Não vendo nada nem ninguém descubro a existência escondida atrás da Verdade.