segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Laura

Aqui Laura tudo jaz
aqui Laura tudo o que jaz serve de lodo para uma nova vida
tudo passa e nada fica para me fazer lembrar que não existe o remorso da consciência, ou todas as palavras numa só boca.
Aqui Laura os dias são apenas gotas de uma chuva, apenas farejo o presente já com réstias de passado, Aqui deixou de existir um tempo...tudo infinitamente se sucede.
a dor, alegria, o amor, a paixão e os sentimentos passageiros do mesmo comboio, roupas que mudam o aspecto, julgares que não mudam nada e olhos que não aprendem o que é ver...
Laura os tempos são estes de trincar frutos colhidos apenas por nós, duma árvore que ninguem tocou como os nós que fizemos só para os desmanchar na preguiça do juizo não querer ser nada do que é...tu não és Laura, o adeus não é despedida, mas sim um agasalho à recordação de ter sido real, algures, em sitios e lugares em que se ocupam somente pelo vazio,Laura são mais os silencios preenchidos, gordos e quentes sentidos de não proferir o que se comeu e digerir e acabar sentado na sanita do conceito largando cheiros e pedaços do que foi comida, que me deu na barriga impressão de poder continuar por mais um dia, mas isso Laura é pura mentira, eu se morrer é de ter vida e não de pensar nos dias que julguei viver
Aqui Laura não se percebe as coisas sentidas em tidas como verdade,farejo, mijo e cago nos passeios que sem ironia me fazem perceber onde estou, nos pequenos infimos actos, nos espaçamentos, nos intervalos, nos falsos e visuais pedaços do que sou.
Aqui Laura nunca foi mais bonito as folhas,as pedras mortas, as gastas horas de um relógio farto de contar os segundos que caiem no pano de fundo deste teatro, não vi aqui, o instante esticar os braços até onde és ou Estar, não contaram os abraços que demos, os versos que juntos fizeram a comida para um prato que não usámos, de rir apenas a mim, que segurando a luz à claridade, o verso encostado contra o papel, tu não seres, eu não conseguir deixar o ser, ser outra coisa além do que é e os pensares serem partos interiores de uma mãe sempre mãe ser, até ser pai do grito do grito de escrever. Laura os dias são cheiros,os sentimentos nariz, a mentira e verdade os talheres...e eu como apenas com a boca lambendo partes do chão, lavando pelo acto a renovação de lamber tanto merda como mel das mãos do Devir...e só trinco o que pode existir o resto é só procurar,dar voltas no proprio eixo e enrolar a coluna da solidão no peito protegido de pelo, pelo verso contra o verso.