terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Morte dos Sonhos

Rodava furiosamente sentado em veludo.
Cuspia as palavras raivosamente e elas encaixavam.
Enquanto fazia o químico trabalhar até á exaustão devorava os delírios do Mundo.
Ele era o Buraco Negro da Loucura.O Devorador de Sonhos.A Morte da Imaginação.
Uma corrente invisível de ideias, sonhos , palavras sentidas mas não ditas, corriam para ele, que em silêncio tudo digeria.
Os arrotos ocasionais soavam cheirosos ao nariz do dealer profissional que se empenhava em criar algo de mais forte. Afinal a loucura era cada vez mais profunda e o Mestre precisava de estímulos cada vez mais fortes.
As mais sublimes e terríveis alucinações deixavam o herói fora de si.
Á medida que o transe apertava ele soltava-se. Os quimicos corriam livres nas suas veias e o seu sorriso de gárgula rasgava-lhe os cantos da boca.
O gosto do sangue enjoava-o mas havia-se habituado á muito.
Os seus santos trajes invocavam sangrentos sacrifícios bilaterais.
Invisíveis tornados sem qualquer constituição atómica rodeavam o homem.O químico olhava, sempre admirado, o falar dos equipamentos.
Apesar de não haver qualquer acção á volta do Amo este estava sem dúvida a reagir a algo exterior a Ele. Valoroso esforço este, pensava ele e toca de aumentar a dose.
Um frémito abala o espaço e o tempo. Um fio de baba pende precariamente da beiça do dealer enquanto vê o seu melhor cliente expandir-se além do provável.
A expansão é acompanhada pela mudança de forma, cor e substância.
O controle aparente, mas á muito perdido, quebra-se e aquilo que não era ganha substância.
As veias entopem-se e os canais fecham-se. A atracção continua mais forte que nunca. O vortex que era aquele Homem está mais belo e forte que nunca. Os pensamentos duma raça fogem em busca de melhor cálice.
E Ele transborda. A feliz agonia com que, quem nunca quis estar vivo, enfrenta a morte espanta o médico louco, que não vendo que os remédios á muito não fazem efeito continua o seu envenenamento metódico e gradual.
Ele deixa de poder receber e o seu poder acaba. Aquilo que ele guardava tem que sair por algum lado. A expansão continua e em breve ele flutua no ar, lembrando um zeppelin canceroso. A sua cor esverdeada e fátua condiz com o cheiro azedo e morno que invade o lugar.
As janelas da sua Alma continuam abertas e a paz é a mesma de sempre.
A resistência quebra-se e a aceitação é total.
Ele fecha os olhos e nesse momento dá-se a implosão.
O químico esfrega os olhos confuso com o vazio da sala. Comunica o acontecido aos seus superiores e auto-flagela-se por isso a comando deles.
De seguida deita-se e dorme o sono dos injustos nunca se questionando porque nunca mais voltou a sonhar.

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